quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Caído


Quantos crimes eu cometi inventados por você?
Toda escuridão será calada, assim que o sangue fabricado nos seus tanques for limpo nas águas turvas de um rio qualquer. Haverá um dia em que os guardas do rei descobrirão o líquido vermelho no meio do imenso rio e eu serei como um anjo posto na estaca pagando pelos próprios delitos, e eu não saberei de nada dos meus próprios delitos, pois foi você quem os pintou. Os crimes que você quis pintar em mim e, por isso, me fez colorido. Da cor dos seus crimes. Muitos. Matiz.
Eu serei como aquele que foi expulso dos céus. Mas só porque foi assim que você me viu. Se houvesse me olhado com os olhos mais puros eu talvez ainda estivesse lá – intacto e casto – e não um semi–anjo, caído, por completo. Quando os seus olhos fecharam, eu calei e quando os seus braços mataram, foram nos meus que o sangue apareceu.
Eu sou só o espinho. Da flor mais estrangeira que você nunca conheceu.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dias Vermelhos



Todas as coisas correndo como uma avião de caça.
O cenário inteiriço de uma paisagem nova, mas já gasta, voando com o vento tórrido sem perdão, movendo-se, louco, pelos ares certeiros e secos de distância do oceano.
O mundo correndo, o vento girando e não movendo mais moinhos.
A rapidez do tempo que faz os meus olhos queimarem e a minha pele cortar, é dela que eu falo. É ela que me traga, me ocasiona, me engatilha aos poucos pra quietude dos anos – que sendo poucos, pesam muito.
Eu talvez chegue aos vinte tendo vivido demais.
Eu talvez acabe escrevendo algumas dessas histórias extraordinárias que não tem história, onde nada acontece e o único clímax é a dúvida e o medo de um homem que olha à janela.
Eu talvez acabe escrevendo essas histórias onde tudo acontece mas nada faça o menor sentido.
Eu talvez não acredite que o amor seja uma mera utopia dos byronianos.
Eu talvez acredite que não acredito em quase nada em que se é possível acreditar.
A minha história talvez seja sempre uma utopia de dois - que quando alguém nasce dois em um só, o fim é um amargo despedaçar: em três, rasgos.  Uma cabeça quebra-cabeças que não consegue resolver suas poucas meias dúzias de peças. Assim, eu engulo as minhas próprias peças, os meus pedaços, estes que eu arranquei com o vigor e a excitação dos dias mais –
dos dias mais! -
mais vermelhos e irracionais.
Esses dias instintivos. Esses dias produtos de um querer único e muito e simples. Que o simples é o maior penar, o simples é esculpido e trabalhoso. E eu sou como um pequeno desbravador da gigante mina das pedras simples. Na terra do tempo vadio, do tempo vazio,
                                        eu sou um estrangeiro.