domingo, 17 de julho de 2011

Congelados


Estivemos caminhando ao lado de um rio de escuridão. Até que houve um domingo em que nós chegamos ao ponto em que o rio deságua no mar e aquilo tudo ficou gigante demais para os nossos corpos miúdos. E então nós decidimos parar. A lua inchou no céu e tudo o que se movia eram dois cachorros negros latindo ao redor do rio. Nós estagnamos diante da imensidão sombria do mar.
Toda aquela água salgada (que antes, dio mio, era doce) nos acusava em seu suave barulho de ondas que nós éramos covardes. Que nós não iríamos nunca, nós não seríamos nada nunca porque éramos inúteis e que tudo estava tão salgado, tudo era salgado demais para nossos corpos miúdos...
Vou te contar uma coisa: os meus olhos também estavam salgados. Você não via porque estava escuro demais. Mas os meus olhos também eram mar. E eu soube – porcamente sentindo – que os teus olhos também eram mar. Então eu te desejo muito, muito, mas muito açúcar. Ou melhor, eu desejo a nós muito, muito, mas muito açúcar. Para parar com esses nossos olhos de sal.

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