quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Veludo


Acordei com vontade de escrever um poema que ninguém fosse ler.
Assim, solitário, feito eu e você, como aquele que um dia me escreveu.
Pego um giz e anoto no espaço: “Eu tenho algo pra dizer.”
Mas se aquiete, sossegue,
Ainda não resolvi direito, inda tenho um desassossego que assusta.
A ausência está em todo lugar, você sabe.
E eu não seria tão feliz, agora, em lugar nenhum.

Eu queria escrever um poema que ninguém fosse ler
Nem eu nem você nem ninguém
Eu queria que o poema brotasse da minha garganta e fosse escorregando em silêncio
Em formato de toque, beijo ou veludo.

Eu sempre tento que os poemas vazem em silêncio.
E eu queria escrever um poema que falasse sobre as coisas que eu escrevo quando estou tocando ou beijando ou apenas
Em silêncio. Para que ninguém entenda.
Entende?

Eu vou deixando esses espaços, criando essas estrofes tolas
Para que preencha com o que quiser
Mesmo que o querer seja nada.

Estou com vontade de escrever um poema que ninguém pudesse ler.
Que pedisse algum feitiço-senha para que pudesse ser lido.
Sobre as coisas que foram rápido demais porque deveriam ter sido há muito tempo.
Um poema com todas as coisas que foram hoje
Com todas as coisas que ainda serão
Com todas as coisas que não foram, mas deveriam ter sido
Com as que deverão ser, mas não serão
Com as que serão quando deverão ser
E com as que serão mesmo quando não deverem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário