segunda-feira, 12 de julho de 2010

Esquisitice


As luzes brancas apagaram e duas lâmpadas fracas (uma azul e outra laranja) acenderam o ambiente em uma meia-luz inspiradora. Pessoas se moviam ao meu redor desordenadamente, me fazendo querer registrar inúmeras fotografias do lugar e armazenar a inquietação de todos ali. A atmosfera por si só possuía vida única, própria e particular regada por sons de guitarras, baixos e baterias em alto e bom tom frenético.
Identifiquei na parcial escuridão cinco pares de tênis iguais, velhos, pretos e surrados. Um deles era o meu e contrastava estranhamente com o vestido de ar supostamente feminino. Não sabia onde pôr as mãos e muito menos onde pôr os olhos – os únicos bem guiados eram meus ouvidos atentos à música que eu conhecia (e adorava). Eu bebia refrigerante: contribui para a lucidez, ainda que eu não seja a maior admiradora e seguidora dessa qualidade.
Meus olhos percorriam todo o recinto. Da garota de corte de cabelo cheio de pontas no balcão aos desenhos em grafite de ícones na parede colorida. Era tudo antigo o suficiente para agradar a alguém que não pertence à época certa, como eu.
Na realidade, o lugar estava repleto de loucos por qualquer coisa que não fosse monotonia. Qualquer resto de diversão e qualquer vestígio de alegria – eu quis assim como todos os que estiveram ali. Do homem traindo ao moço embriagado, da garota-de-cabelo-preto-com-pontas-repicadas à senhora que levava a mão ao peito a todo instante. Os músicos e seus instrumentos agitados inquietos e vibrantes, ecoando uma insana intensidade contagiante também a buscavam; essa dose de antídoto para a rotina e esse remédio para um desgosto qualquer. Eu ainda não sei o que era, mas sei que a busca estava ali, em todos aqueles estranhos com uma dúzia de coisas em comum: tênis idênticos, mesmos gostos musicais, a simpatia pelo preto, pela bebida (ainda que não-alcoólica) e essa procura por uma coisa qualquer.
Essa coisa, ainda escondida, buscamos no fundo destes copos meio vazios, nos solos desses instrumentos de som metálico, no chão quadriculado do espaço um tanto escuro, nos poemas musicais sussurrados para si mesmos na tentativa tola de aproveitar a música ressoante, nos desenhos grafitados de uns ídolos que compramos para nós.
Ainda procuro essa essência qualquer para uma falta de conformismo que já perdi faz tempo entre os meus pares de tênis surrados, músicas dilacerantes e olhos esfumaçados com sombras escuras – coisa que ninguém percebe. Minha aparência delicada disfarça esse detalhe essencial e não condiz com nada além dela mesma. Meu exterior me é estranho.

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