(querida:)
Nós costumávamos ter uma intimidade absurda, mas em hipótese alguma invasiva. Não invadíamos espaços particulares uma da outra porque simplesmente não havia espaços particulares: entre nós qualquer coisa era pública. Você não escreveu sobre mim. Eu escrevi uma meia dúzia de parágrafos lamentosos sobre o nosso afastamento e só. Escrevi-te como se você tivesse partido (quando na verdade estava só há alguns metros de mim, calada). Eu aprendi a não contar nada a você nem a ninguém.
Até que hoje, depois desse tempo todo, eu resolvi te contar. E, puxa vida, só então percebi que eu sentia realmente muita falta.
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(eleição do quem sou eu)
Andei pensando em algumas coisas clichês. Nessas frases já repetidas em excesso que começam sempre com aquele termo recorrente: “A vida (...)”.
Pois lá vai: a vida é um jogo de preferências. Estamos sempre escolhendo aquilo de que gostamos mais. De pessoas às cores de caneta. É tempo de preferir.
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(mudez)
Ando meio rouca também. Vai ver é porque aprendi a gritar (coisa que sempre quis saber fazer). Tenho agora uma garganta que arranha o frio do gelo e do vento, uma garganta que arranha o ar expirado, uma garganta que só arranha, uma garganta que cala, mas também uma garganta feliz por saber estalar e explodir.
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(olhos de caos)
Eu queria muito poder entender os números. Eles me confundem de certa forma tão absurda que me tiram o gosto. É mesmo muito mais fácil interpretar as coisas ditas (e, em certos casos, as coisas não ditas também) do que entender o mundo em cálculos. Acho que não confio muito em nada que não tenha olhos (porque sim, as palavras tem olhos enormes e indagadores, encarando-nos impiedosa e desafiadoramente, aguardando pela resolução do mistério existente no meio delas, tumultuando-nos entre inúmeras interpretações – e vou te confessar, cá entre nós: adoro essa confusão, adoro o caos das palavras).
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(resumindo:)
Estive rouca e quase muda. Sem poder falar, andei pensando. Acabei em análises sobre meus gostos particulares. Contei-os para você. No fim, caí novamente nesse abismo solitário das palavras.
Nós costumávamos ter uma intimidade absurda, mas em hipótese alguma invasiva. Não invadíamos espaços particulares uma da outra porque simplesmente não havia espaços particulares: entre nós qualquer coisa era pública. Você não escreveu sobre mim. Eu escrevi uma meia dúzia de parágrafos lamentosos sobre o nosso afastamento e só. Escrevi-te como se você tivesse partido (quando na verdade estava só há alguns metros de mim, calada). Eu aprendi a não contar nada a você nem a ninguém.
Até que hoje, depois desse tempo todo, eu resolvi te contar. E, puxa vida, só então percebi que eu sentia realmente muita falta.
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(eleição do quem sou eu)
Andei pensando em algumas coisas clichês. Nessas frases já repetidas em excesso que começam sempre com aquele termo recorrente: “A vida (...)”.
Pois lá vai: a vida é um jogo de preferências. Estamos sempre escolhendo aquilo de que gostamos mais. De pessoas às cores de caneta. É tempo de preferir.
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(mudez)
Ando meio rouca também. Vai ver é porque aprendi a gritar (coisa que sempre quis saber fazer). Tenho agora uma garganta que arranha o frio do gelo e do vento, uma garganta que arranha o ar expirado, uma garganta que só arranha, uma garganta que cala, mas também uma garganta feliz por saber estalar e explodir.
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(olhos de caos)
Eu queria muito poder entender os números. Eles me confundem de certa forma tão absurda que me tiram o gosto. É mesmo muito mais fácil interpretar as coisas ditas (e, em certos casos, as coisas não ditas também) do que entender o mundo em cálculos. Acho que não confio muito em nada que não tenha olhos (porque sim, as palavras tem olhos enormes e indagadores, encarando-nos impiedosa e desafiadoramente, aguardando pela resolução do mistério existente no meio delas, tumultuando-nos entre inúmeras interpretações – e vou te confessar, cá entre nós: adoro essa confusão, adoro o caos das palavras).
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(resumindo:)
Estive rouca e quase muda. Sem poder falar, andei pensando. Acabei em análises sobre meus gostos particulares. Contei-os para você. No fim, caí novamente nesse abismo solitário das palavras.