segunda-feira, 21 de março de 2011

O Tempo Singular


Entenda, eu me lembro subitamente agora de canções que eu nunca ouvi, canções estas prevendo revoltas e arrepios na espinha. Aquieto-me com os olhos perdidos (pois me disseram que faço isso o tempo todo) pensando em como é engraçado o curso da roda-viva, que gira feito folhas secas em pequenos redemoinhos de vento do outono. As músicas retornam, a simpatia (e também a apatia) retorna, as peles retornam, os lugares também,
o tempo todo
toda hora
o tempo-hora
todo, todo
o tempo ora.
Há pouco tempo, costumavam execrar-me pelo silêncio dos meus desejos indevidos; agora, a minha presença tranqüila lhes é bem vinda como um pequeno sopro de fim de tarde em suas nucas cansadas. É mesmo irônico e selvagem que quem outrora lhe quis fazer todo tipo de injúria agora lhe estenda os braços de forma afetuosa e agradecida. O que é que o relógio faz, não é mesmo (?). Os meses são todos pequenas-grandes vidas que diferem entre si e o que parecera tão palpável na última terça-feira/22-de-um-mês-qualquer agora é apenas pó na imensa janela do tempo.
Perceba, continuo recebendo esses pequenos presentes ambíguos, essas possibilidades concretas. Mas são também tão imensos que não posso carregar. São sutis frêmitos me atravessando os ossos e a penugem dos braços, porque anseio por tudo tão depressa como se não houvesse outro tempo (e deveras não há, entenda, essa é minha única época e minha fase, singular).
Acredite, eu deveria ser levada mais a sério pelo que não ando dizendo. Tudo o que faço é contar os dias no calendário como nas letras daquelas canções estúpidas - porque é tempo de ansiar e almejar e roer unhas e de ficar respirando “assim, assim” de forma irregular, com os pulmões apreensivos e extasiados, inspirando em intervalos irregulares. É hora de contar as horas e também de esquecer-se delas para que passem velozes como um avião militar, mas ainda assim lentas o suficiente para que possam ser deleitadas. As luzes estão mesmo chegando e eu as quero, eu as quero.
E isso tudo me faz lembrar (mas sem tristeza alguma, como se ela estivesse sendo grata e feliz ao escrever) dos anseios de Virginia Woolf: “Always the love. Always the hours.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário