sexta-feira, 13 de maio de 2011
Vestido de Noiva
(just a little bit of sweet, old and foolish love; another story about deception)
Marieta estava bela como nunca. Os cabelos negros e longos atados em uma fita de cetim branca como a cor do seu vestido. Era uma peça sem alças ou mangas, com uma longa cauda ressaltando o seu belo corpo cheio. Experimentava-o por puro prazer. Sem jóias ou maquiagem - uma beleza limpa. Olhava-se no espelho com certo carinho e o espelho retribuía-lhe a imagem da flor da idade. Dezessete anos e um grande sonho: um dia entrar na igreja com este vestido costurado pelas próprias mãos.
Era década de 40 e as garotas ainda esperavam ser cortejadas por um cavalheiro que passasse pela janela ou por um charmoso estranho na fila do cinema. O estranho de Marieta, entretanto, possuía nome: Abel. Cabelos castanhos penteados com escovinha, suéter xadrez, sapatos lustrados. Suspiros no coração da menina. Conhecia-o pelas sessões de cinema - ambos eram apaixonados pelos clássicos americanos e sempre podiam ser vistos na fila de ingressos. Do ponto de vista dela, já haviam se cortejado entre olhares. Certa vez, recordou ela, Abel pareceu até mesmo piscar para ela com o olho direito e sorrir-lhe de um jeito cativante e quieto que a amoleceu os ossos feito gelatina.
Ainda não haviam trocado uma palavra sequer quando Marieta decidiu ter a prova concreta de que era correspondida. Naquela (até então) doce sexta-feira, decidira ir ao cinema com um belo lenço de seda de sua mãe e, displicentemente, deixá-lo cair aos pés do rapaz. Caso ele o pegasse e iniciasse conversa, estava certa: o encantamento era mútuo! Arrumou-se no seu vestido estampado cor-de-lilás, a mente entretida em imaginar-se em seu casamento (o vestido que tanto estimava, Abel a aguardá-la no altar com um sorriso no rosto).
Emaranhada nestes pensamentos, chegou ao cinema radiante. Logo no meio da fila de ingressos, viu-o, belo e vistoso, vestido em azul-marinho. Marieta aproximou-se com o lenço nas mãos e um sorriso no rosto. No exato instante em que seu dedo indicador soltou-se do lenço, alguém precipitou em direção a Abel e deu-lhe um cuidadoso beijo apaixonado. Ao virar o rosto, Marieta pôde ver quem era: Lúcia, sua melhor amiga. Ambos não a viram virar de costas e partir, enxugando lágrimas com o lenço que outrora representou felicidade.
Marieta foi para casa, seu coração um caos de cacos. Fez as malas, guardou tudo, deixando apenas o estimado vestido. Saiu de casa sorrateira com a bagagem, sem que sua mãe Marinildes visse. No portão, deixou um anúncio. Na mente, a decisão de fugir da pequena cidade de Esperança, pois desta não lhe restara nada. No anúncio, deixado no portão, vendia seus sonhos por uma barganha:
"Vende-se um vestido de noiva, manequim 46, sem uso, tratar com Marinildes - tel..."
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