segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Kryptonita


Isso aqui são labirintos. Parecem dedos, mãos, lábios talvez, olhos (sim, definitivamente olhos), mas só parecem. São mesmo é labirintos. Sem que Ariadne me dê um novelo de lã, eu me perco e meu corpo de Teseu é devorado pela imensa criatura que vive ali dentro.
No fim do labirinto, esta lá: a criatura. No final dos meus pesadelos também, quando eles se tornam sonhos bons, a criatura é sempre o fim. Quando a noite vira madrugada e as tardes viram noites, lá está ela. É o meu epílogo, o meu post scriptum mais importante, o meu ponto final precipitado. Me devorando sempre, todas as vezes, com as unhas, os dentes, com as pontas dos dedos e o canto dos lábios. E eu vou me dissipando, sangrenta, porque eu não tenho o novelo de lã indicando a saída. Me perdendo, ainda que estivesse com os olhos completamente abertos. Assisto a criatura engolir o que deveriam ser meus lábios com os seus lábios, ou destruindo o que talvez eram as minhas pernas com as suas pernas, o que talvez fossem os meus olhos com os seus olhos e os meus seios com as próprias mãos.
Mas de alguma forma misteriosa eu sempre acabo voltando. Inteira. Talvez com uma ou duas cicatrizes. E meus instintos, as minhas veias, a parte irracional (e a racional também) da minha mente me conduzem novamente aos labirintos. Eu os observo como um suicida enxerga a saída em um precipício, como um bebê enxerga o seio materno, um alcoólatra vendo uma garrafa de Jack. Encaro o meu círculo vicioso, e o meu corpo caindo, a noite na janela, o último mês, os meus pesadelos virando sonhos, e lembro a criatura, que é sempre aonde eu caio, a ferida no meu calcanhar, a causa que eu sempre perco e sempre ganho, o meu veneno mais doce, a criatura que é aonde eu não devo ir, mas que é onde sempre quero estar.

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