segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Veja Bem, Meu Bem


Tentei uma ode, um rabisco, uma canção de ninar, desculpas, contratos, provas e nada me saiu. Mas veja bem, temos a vantagem de que o final da primavera corre ao nosso favor. E já está se acabando também, mas veja bem outra vez, e repare que isso não importa essa noite.
São dias de muito sol e de borboletas negras invadindo a sala quando ele finalmente se põe, mas olha só, que agora é fim de noite e não há problema algum em salivar por um pouco de paz. Mesmo que a paz seja veneno ou arma engatilhada: é fim de noite e não há tempo para se importar com olhos peçonhentos. Pode abrir os olhos agora, porque assim se morre de costas pro gatilho e com os olhos virados pro céu. Pode levantar as pálpebras porque assim se morre também, mas ao menos morre-se assistindo as constelações que não sabemos nomear. Com a janela aberta não faz sentido algum fechar os olhos e eu faço questão. Veja bem, isso é a morte, mas não é doce? - ah, não soa assim tão doce morrer com as estrelas presas no céu da boca? E com música, pois há música nos meus ouvidos que talvez seja o raro vento de dezembro invadindo a janela ou talvez seja eu mesma, talvez seja o céu da minha boca sendo povoado pelos pontos de luz.
Está vendo? Estamos fadados. Mas veja bem, meu bem, ao menos se morre engolindo as estrelas.

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