Tentei uma ode, um rabisco, uma canção de ninar, desculpas, contratos, provas e nada me saiu. Mas veja bem, temos a vantagem de que o final da primavera corre ao nosso favor. E já está se acabando também, mas veja bem outra vez, e repare que isso não importa essa noite.
São dias de muito sol e de borboletas negras invadindo a sala quando ele finalmente se põe, mas olha só, que agora é fim de noite e não há problema algum em salivar por um pouco de paz. Mesmo que a paz seja veneno ou arma engatilhada: é fim de noite e não há tempo para se importar com olhos peçonhentos. Pode abrir os olhos agora, porque assim se morre de costas pro gatilho e com os olhos virados pro céu. Pode levantar as pálpebras porque assim se morre também, mas ao menos morre-se assistindo as constelações que não sabemos nomear. Com a janela aberta não faz sentido algum fechar os olhos e eu faço questão. Veja bem, isso é a morte, mas não é doce? - ah, não soa assim tão doce morrer com as estrelas presas no céu da boca? E com música, pois há música nos meus ouvidos que talvez seja o raro vento de dezembro invadindo a janela ou talvez seja eu mesma, talvez seja o céu da minha boca sendo povoado pelos pontos de luz.
Está vendo? Estamos fadados. Mas veja bem, meu bem, ao menos se morre engolindo as estrelas.
Está vendo? Estamos fadados. Mas veja bem, meu bem, ao menos se morre engolindo as estrelas.
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