domingo, 1 de agosto de 2010

Pequena Observação


É aquilo que acontece quando enxerga-se pela primeira vez um estranho em um bar.
Você entra e não percebe, cumprimenta meia dúzia e não repara. Senta-se na cadeira que lhe estenderam, pede uma bebida e ambienta-se o quanto puder. O coração está seco, drenado pela saudade de qualquer coisa com fulgor, qualquer coisa que vibra; o gelo da bebida palpita em seus lábios, escorre em fraqueza e o órgão vítal permanece irredutível, intacto - acolho é somente memória.
E num breve momento sem intenção, em uma distração momentânea vira-se a cabeça e vê, pela primeira vez, o estranho. Muito mais ágil que você, já notara sua presença e te observa sorrateiramente. Você nota um par de olhos azuis, um cabelo loiro e um sorriso reto cheio de dentes. O coração respira e o pulmão palpita.
Ainda não há um fim de saudade ou acolhecimento familiar. Há apenas aquela linha invisível e imaginária criada pelo encontro de dois olhos verdes com dois olhos azuis. Ainda sente-se falta de outras pessoas que não estão ali, um vazio perturbador. Mas há uma nova pessoa - momentânea e um tanto distante - e que ainda assim representa algo de insubstituível.
De repente o estranho levanta-se em um último vislumbre em sua direção, dá-lhe as costas e vai embora. Então você recebe uma renovadora carga de energia no peito e sangue fluindo com intensidade; e percebe que, talvez, o coração não estivesse assim tão seco.
(21/07)

Nenhum comentário:

Postar um comentário