terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Último Oceano


As pessoas estão falando em “antes” e “agora”. Eu mesma falo em “antes” (it hurts a little or maybe a lot) e “agora”. O antes era assim: tinha gente, e essa gente encantava quando abria a boca para cantar e dizer; tinha gente, e gente que se amava muito ali no meio, amor mesmo, desses que doem e formam casais; tinha gente, e essa gente sentia-se muito honrada; tinha gente, e eles sorriam (ai, como eles costumavam sorrir para cantar, mesmo com as cordas vocais meios gastas – ai, como eles sorriam).
O que me entristece no antes não é exatamente o que poderia ter sido e não foi. O que me entristece no antes são todas as coisas que poderiam ter sido e foram. As escadas atrás das luzes, as coisas sussurradas (bem ali atrás, onde ninguém vê), quando o suor vibrava, quando amar era êxtase e não lágrimas que uma ou duas garotas escondem no banheiro e enxugam no casaco vermelho, quando você costumava gostar de mim, quando todos nós costumávamos gostar (gostar mesmo, entende? aquela sensação de que está tudo se abrindo, exposto e dane-se – isso não é nenhum problema), quando era tudo tão nítido, quando era tudo tão claro (sabe, nós éramos, apesar de tudo, felizes e nem sabíamos).
O agora somos nós remando contra a maré. O saldo é esse: dois corações partidos, duas partes inteiras partindo, um bando de palavras ácidas escapando por aqui ou por ali (mas não vamos falar de coisas ácidas, porque as pessoas ácidas andam me pesando demais nessa memória e nesse íntimo cheio de cacos), uma ou duas flores brotando bem ali no canto (ninguém sabe, ninguém viu), estagnação, estagnação, estagnação (me desculpem, isso foi uma lágrima que escorreu), e essa vontade insana – um anseio quase maníaco – por um pouquinho de graça, por uma pontinha escassa de amor (dessa vez por si próprio, só porque amar a si mesmo é mesmo muito mais fácil), por um pequeno oásis onde ainda não se fez deserto, mas também não se é mais oceano.
Perdoem-me por ser um tanto quanto comum agora (e sempre): que o “amanhã” nos deixe ser capaz de sorrir. Tal qual o “antes”, embora diferente. Sempre diferente.

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