quarta-feira, 23 de abril de 2014

Entrada de Emergência


Cinco horas da manhã no relógio digital.
Se ao menos ele apagasse, a sua cintilante luz vermelha não mais interromperia meu sono. Ou apenas minha tentativa falível de dormir. Cinco horas da manhã e os letreiros de saída de emergência já sublinham minha testa de riscos sonolentos. Quem é que precisa de saídas quando nem se permitem entradas? Quem é que possui emergência quando não se possui circunstância? 
Considero criar minha própria situação-momento, que liquefaça o relógio taciturno, piscando abruptamente o tempo todo a cada badalada do meu cérebro. Meu cérebro.
Meu cérebro.
Digo isso como quem diz "meu coração".
Meu coração que clama por silêncio visual, ainda que quando minhas pálpebras se fechem tudo o que eu veja seja o piscar do relógio, gravado em minha retina, e também cores. "Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores". Cores do poeta mineiro que para sempre permanecerá sentado em um banquinho de Copacabana, para qual eu digo: mais vasto é o meu coração.
Mais vasto é meu coração, poeta. Mais vasto que Copacabana. E mais vasto que a luz vermelha deste relógio digital, que não se apagará jamais enquanto meus olhos ainda estiverem abertos - e vastos.

(escrito em 19 de julho de 2013)

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