domingo, 1 de agosto de 2010

Eventualidades


Ele veio ao meu encontro em uma sexta-feira calorenta em pleno inverno de julho. Eu o vi com seu ar duro e sério, com as mãos nos bolsos naquela pose pronta e abaixei os olhos. Estava dando um descanso à poesia por alguns dias, mas ao observar uma borboleta azul assustar-se comigo e voar do chão, restaurei-a de imediato. Durou pouco. Logo voltei a aprumar minha cabeça e a recordei-me de onde estava, mundo real. Aproximou-se e veio-me com o clichê habitual:
- Oi!
Estávamos em uma rua movimentada e um caminhão rústico ao meu lado exalava cheiros de comida em conserva. Eu não queria estar ali.
Trocamos palavras sobre conhecidos em comum. Eu estava de férias e algumas pessoas da escola nunca saem de férias porque o único assunto vital que possuem é esse: a escola. Eu estava com fones, mas podia escutar claramente o blá blá blá sobre alguém que estava indo embora da cidade. Dei-lhe um sorriso, disse algo que soava lamentoso pela pessoa que ia embora, joguei-lhe um até logo e fui embora.
"Que rua estranha”, pensei.
Segui em frente pela alameda das igrejas, supermercados e árvores. Alguns passos depois e enxerguei outro conhecido, mas dessa vez alguém que não via há muito tempo. Há anos. Era uma senhora, negra, de óculos, avó de alguém que eu conhecia. Não lembrei seu nome, talvez fosse Maria. Maria-dos-óculos, Maria-da-pele-negra, Maria-senhora.
Ela sorriu e perguntou-me:
- Qual é o seu nome?
Eu respondi-lhe. Sua boca abriu em uma expressão pasma – não havia me reconhecido de imediato, nem tampouco tinha certeza integral de que eu era a criança de bochechas salientes que ela conhecera quando eu nasci. Bom, as bochechas ainda estão salientes o suficiente para a senhora-Maria-de-alguma-coisa me reconhecer vagamente. Ela não acreditava em quanto havia crescido ao longo dos anos. Pareceu-me pequena com sua atarracada estatura de senhora idosa. Abracei-lhe e desejei-lhe bom dia, a pequena senhora sorriu. Eu adoro ver idosos sorrindo. Faz-me achar que a vida talvez não seja assim tão torta.

Um comentário: