sábado, 11 de setembro de 2010

Bexigas Murchas


Despedindo-se da infância perdida vestida com camiseta vermelha na tarde chuvosa, guardo a memória dos plásticos rasgados de fim de festa, dos doces sobrados e das garrafas com pouca bebida. Confundem minha concentração com suas piadas tortas os meus amigos queridos, trazem-me sorrisos que não me pertencem, que escondem meus desejos incertos não-revelados.
Reparei nas suas unhas, nas mãos, na curva dos ombros pelo reflexo da poça líquida esvaída no chão por algum frágil embriagado. Eram curtos e frágeis, mais fracos que minhas próprias forças de menina. Os amigos riam de suas próprias conversas – eu, alheia a tudo, absorta em sua imagem retorcida refletida no chão. Observara tudo e todas estas coisas tornaram-se ridículas, feias: os traços, os espaços, as axilas e as pálpebras caídas. Criou-se uma imagem grosseira.
Os cabelos quebradiços, a cor desbotada, a pele cicatrizada, as flores murchas, a roupa amassada, o doce enjoativo, o rosto suado, a grama poluída, a água suja, a voz rouca, a mente vazia, o abraço desgostoso, os olhos cegos, as mãos ásperas, a música de mau gosto, as bexigas estouradas, as velas apagadas, o cheiro ruim.
A ansiedade reprimida fora transformada em desânimo e tristeza em menos de meio minuto, por um aviso curto - uma simples observação. Mas na sola do seu sapato (quase um segredo!) uma frase sincera riscada com tinta vermelha me fez rir: “o amor fede”.

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