segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Lovers In 68


Os amantes franceses passeavam pela Champs-Élysées exalando o seu ar sofisticado durante o verão de 68. Os rapazes gostavam de ouvir a vendedora de jornais, com sua voz doce e suave, gritar pelo seu sustento: “New York Herald Tribune! New York Herald Tribune!”. As garotas usavam vestidos de cetim e boinas tortas na cabeça, transformando as ruas em cinzeiros e os garotos em cães babões. Tanto eles quanto elas assinavam poemas como petições e petições como poemas, discutindo sobre Hendrix ou Clapton, Chaplin ou Godard, Beatles ou Beatles, sobre lutar ou sobre calar. Desfilavam seus rostos belos e o discurso comunista nos becos centrais sorrateiramente revolucionando as frias esquinas debaixo do apurado faro do Estado. Eles não possuíam armas – apenas bombas – embora fossem românticos o suficiente para andarem com livros e instrumentos nas mãos. Eles não existiram e foram o seu próprio sonho utópico, eles existiram e não foram heróis da própria luta. Eles não conheceram o Vietnã ou Hiroshima, mas souberam prender todo o mal de uma guerra nos versos, atando todas as pontas soltas daquele mundo sangrento nas cordas das guitarras tocadas com os dentes.
Os apaixonados do Arco do Triunfo em 68 beijavam-se entre gritos de vida ou morte e caminhavam entre mãos dadas por ruas infestadas de gente desesperada por algo que parecia ser justiça, desviando de enormes montes de tralha empilhadas nos postes de luz. Ousavam amar-se sobre o céu vermelho da revolta, espalhando graça e delicadeza aonde as bandeiras queimavam e as armas mais atiravam, ferindo as roucas vozes de protesto. Desafiavam o caos ao gozar da paz de tudo o que é mais puro e único dentro do olho do furacão. Eles foram às farpas e as enfrentaram, foram um exército de dois e o clamor de muitos, a voz esperançosa no escuro, o suspiro ansioso na parafernália intensa. E eles foram (acima de tudo) o fim da luta e do grito, porque agora, os amantes franceses de 1968 estão todos calados. De tédio e desgosto.

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