quarta-feira, 16 de junho de 2010

Três



Quero dividir-me em três.
Tenho estes três desejos, três vontades contraditórias e tão típicas de mim. Não posso conviver muito tempo com sentimentos tão distintos em um só interior. Aliás, devo corrigir-me: o sentimento é apenas um, porém varia de intensidade e direciona-se em sentidos diferentes. Possui três deles.
Um desses sentidos sonha alto e voa longe para uma grande metrópole de um grande país. Em tal cidade está um belo par de olhos verdes que gostaria que fossem meus. Há uns cabelos escuros, pretos e confusos que recortam uma pele branca que me remete à neve européia. O rosto pálido guarda sorrisos tímidos e o corpo magro possui mãos nervosas, inquietas, meigas e unhas pintadas de preto.
A segunda direção deste sentimento é fácil como o ato de respirar. Não possui nem de perto os mesmos impedimentos do anterior: vai pra perto, é correspondido e “conservadoramente” correto. Possui ar leve de um primeiro beijo apaixonado, de carinhos de amantes recém-descobertos – é quase saudável.
A terceira parte deste mesmo sentimento machuca. Machuca, pois é a mais intensa, a mais próxima e também, a mais impossível. Recebo pequenos vestígios de que poderia ser correspondida. Só. Versos de músicas, mãos entrelaçadas com dedos magros carinhosamente e olhares significativos. Parece muito, mas não! Queremos sempre mais! Queremos o sentimento correspondido cuspido na cara, óbvio, claro e verídico para sermos felizes. Não nos contentamos com insinuações. E ainda forço-me a soltar um sorriso quando o assunto transforma-se em juntar-me com outra pessoa ou juntar-te com outro alguém. Será mesmo tão difícil decifrar-me? Ou é tudo apenas fingimento, apenas uma indiferença aparente quando na verdade passa madrugadas pensando nas possibilidades do que poderíamos ser?
Já não sei para onde devo me guiar. São caminhos tão distintos e quanto mais intensos, mais sei que darão errado.
Posso enxergar cores no escuro, mas não descubro o real objetivo de alguns pares de olhos. Antes pudesse enxergar além deles, ler pensamentos, me atirar para dentro do que quer que escondam estes olhos e infiltrar-me sem medo algum, indeterminadamente mergulhada em sua imensidão.

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