terça-feira, 23 de novembro de 2010

Recital (Do Que É Belo)


Eu gosto das coisas bonitas que diz e das poesias que recita quando está distraído. Eu gosto do que é belo, ainda que soe perigoso, cruel e ameaçador. Não há segredo algum em suas palavras assim como não possuo segredo algum. Só há um ar de mistério encobrindo-me como uma capa, que é nada mais que isso: nada.
O entendimento que existe no nosso silêncio me satisfaz e somos dois pedaços sólidos e invertidos, cada qual com seu cada um, com seus braços abertos sobre o ar de novembro. Não há vergonha em ser sutil, não há dedos suficientes para cobrir a boca que sorri risos imensos ou para levar aos lábios o sustento da alma.
Tenho mãos que cedem e abdicam de sua pele, tenho uma garganta que trava com sua aflição e uma mente que descansa ao esquecer-se de uma ausência. Não me importo em somente observar porque tocar só pude uma vez; não me importo em saber que sorri porque rir só te fiz em uma ocasião. Não me importo em saber que não amas alguém. Só me importo em saber que é, está e suspira. Enquanto assisto a tua beleza viva admitir-se tola. Enquanto espero que me diga as coisas que ninguém nota. Enquanto amo sem amar.
As mãos caem por teu rosto austero, as pernas enfraquecem sobre os pés cansados. Absolutamente tudo acontece se o ar é propício e tudo é tão esquivo, tão frágil diante dos olhos daquele que também é fraco e propenso a toda e qualquer coisa.
O belo só é belo porque arruína e, por saber-se arruinado, sorri embasbacado diante de tudo.

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