terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ventania


O vento quebrava os vidros das janelas e derrubava os fios condutores de luz enquanto jogávamos conversa fora em uma sala lotada. Apreciando muito, sempre e tanto - nada menos que isso - entre olhares subentendidos e risonhos vibrando uma semi-desordem. Estava eu pedindo opiniões despretensiosas sobre meu andar esquisito, minhas mãos soltas e minha voz falha enquanto a ventania descontava sua ira nas árvores imensas que cercavam aquele espaço iluminado. Deixei que as músicas ecoassem, que você fizesse alvoroço e que as folhas ribombassem pela porta em um projeto de tempestade de verão.
Em meus olhos, o lá fora e ali dentro misturavam-se em uma só imagem: seus olhos saltados ora de riso e ora de nervos em sintonia com o aguaceiro e o vendaval ora enfurecidos e ora saltitantes do outro lado da janela quebrada. Gostaria de poder contar todos os pensamentos que permearam minha mente nas últimas semanas sem que risse, ignorasse-os ou virasse os olhos para minhas afirmações. Nem mesmo que fosse só um suspiro secreto sussurrado solitariamente pairando perto dos seus ouvidos desatentos.
Parece tão fácil contar-te todas as outras coisas enquanto apenas uma única verdade esgana na garganta sem que possa ser dita e nem mesmo repetida à própria sombra. Bastar-me-ia um pedacinho de tempo, alguns segundos talvez, qualquer um destes que você desperdiça observando as pessoas erradas para que eu te contasse e você esnobasse totalmente minha face desejosa. Sem dizer nada mais, despedi-me e mesmo sem lhe falar, estou certa que já sabe o que é que me irrita tanto e o que é que anseio tanto. Pois, estou lhe dizendo agora... meus olhos repletos de vontades não sabem mentir.

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