quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Campo Minado


Construíram muros onde eu nunca quis que o fizessem e agora sobro em um vácuo recheado de perguntas que eu não soube fazer. Fingi que todas aquelas palavras indiretas escritas não-sei-aonde e aquele gesto doce eram sobre mim porque havia alguma coisa clamando (pedindo e sussurrando um acanhado desejo) aqui dentro para que fossem sobre mim. E esta dose de ilusão me fez tão bem tão tanto tão bem. Tão estranho assistir lágrimas caírem sobre um sorriso calmo. Tão sutis as pequenas gotas cristalinas molhando uma felicidade serena que observo no espelho. Perdoe minha obviedade, por talvez não conseguir, por estupidamente tentar, por silenciar o que deveria ser gritado a plenos pulmões pelos quatro cantos daquele lugar que tanto gosto.
Repetindo corajosamente as mesmas frases sobre o tapete sujo, tento tatear alguma ideia bendita que facilite meus passos e meus gestos meio grosseiros, meio suaves, meio bruscos e meio frágeis. Não quero sentar-me por quatro horas inteiras entre essas paredes de cor marrom-amarelado ouvindo falatórios que não me trazem nada além de tédio e um par de ouvidos ensurdecidos pelo barulho de vozes alarmadas conversando freneticamente entre si. Só quero aquele outro lugar, aquele mais raro, aquele que dói, mas que também sorri. No qual encontro conforto ainda que por vezes seja como pisar em ovos, escolhendo minhas palavras com um cuidado indevido. Essa felicidade esquisita queimando por dias em meus olhos sonolentos sem que ninguém soubesse sobrevive sorrateira em algum canto de mim, cochichando-me as regras de sobrevivência nesse campo minado que ainda aprendo a respeitar.

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