sábado, 30 de outubro de 2010

Encaixotados


A tralha se acumulando nos lugares errados como montes de nada a atrapalhar-me; a tralha sem-nome; a tralha incessante jogada aos meus pés em caixas pardas e etiquetadas. A ternura arrumou suas malas e está de partida para outra casa que eu conheço, mas não possuo as chaves da porta de entrada.
Em algum canto oculto restou a beleza que tanto amei (e desperdicei, recompus e apreciei com os lábios um pouco abertos de admiração) decidida a esconder-se e então, partir, desbravar sabores que aqui não pode provar.
Essa beleza-ternura despede-se em partes, continuamente e aos poucos, caixas por caixas, após muita birra, excessos e sorrisos amarelos. Uma fina linha de poeira começa a formar-se sobre os seus objetos encaixotados que eu zelosamente cobri com lençóis para evitar o desgaste. E agora eu só digo adeus. Saiba que o que restou ainda paira no ar como a névoa branca fazendo cair a garoa matutina e que eu posso tocar tais restos com meus braços estendidos no ar. Porque se ouve o silêncio, enxerga-se o transparente, o nada também é uma marca. E a minha casa é um mar de lençóis.

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