terça-feira, 12 de outubro de 2010

Uma Mentira Branca


Estive à procura dessas pequenas satisfações escondidas nos dias de coisas tolas, essas pequenas mentiras brancas (mentiras por um bem maior!) que facilitam a entrada de ar nos pulmões. Concentro-me na pausa, no espaço entre o diafragma e as cordas vocais. Estou viva. Este meu pequeno prazer é elástico, vibra como fios soltos de nylon, hesitando entre o simples contentamento e a certeza de que somente respirar não é o suficiente.
Sei que os filmes parecem retratar todo esse pequeno dilema – inspirar pelo nariz e expirar pela boca ou simplesmente parar. Simplesmente ter a certeza de que se pode pular de um alto penhasco, bater a cabeça, deixar-se eternamente flutuar no fundo das águas. E quem sabe um dia voltar à superfície como outra vida. Voltaria homem? Voltaria escassa de encantos? Rude? Ignorante? Ou bela de arder os olhos?
Talvez nem voltasse. Talvez essa coisa que chamam de “minha alma” resolvesse aproveitar a fina e final sensação de liberdade que nunca soubemos degustar enquanto seres de carne e osso.
Aliás, teria eu mesmo carne e ossos? Sinto-me pó. E só. E solta. De tão livre, presa em correntes de vento gelado adentrando pela porta. Acho impressionante a quantidade de palavras que já foram gastas por mim e por outros tantos em busca de um pouco mais de carne e ossos e menos desgosto. Drummond suportou o mundo nas costas. E o escreveu. Rachel e sua tangerine-girl iludiram-se com os bilhetes caídos do céu. E escreveu. Vinicius amou e des-amou amou e separou amou amou amou e escreveu. Todos eles.
Só não me leve tão a sério - tenho um nariz vermelho e umas bochechas engraçadas, sempre prontas a rir dos egos inflamados e das próprias falhas da vida (ou por que não, da sobrevivência?). Deixe-me rir (rir até chorar, ou somente isso: chorar) do meu próprio descontentamento e então voltar a agradecer, outra vez, por puramente respirar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário