segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Em Um Carrossel


Compus canções inteiras para os aromas exalados por tuas peles para que pudesse revisitar teus cheiros todas as vezes que me sentisse só e armazenei todas as fotos dos nossos risos nas madrugadas passadas em claro.
A minha visão turva não escondeu as memórias claras e espontâneas, nem mesmo a sensação das gotas gélidas de tempestade caindo sobre meu corpo exausto e satisfeito. Não tive sono nem por um segundo – se tal momento existiu, pairou no ar fragilmente e esvaiu-se pelo chão molhado com uma naturalidade imperceptível.
Tudo se encaixava facilmente, num minúsculo quebra-cabeças de meia dúzia de peças. Não havia um mundo a se preocupar, éramos crianças em um parque de diversões vazio, um pequeno grupo agitando-se contra a intensidade do tempo. Éramos Phoebe girando no seu carrossel com Holden a nos observar. Éramos Phoebe, e só agora me dou conta.

“Puxa, aí começou a chover pra burro. Um dilúvio, juro por Deus. (...) Mas nem liguei. Me senti feliz de repente, vendo a Phoebe passar e passar. Pra dizer a verdade, eu estava a ponto de chorar de tão feliz que me sentia. Sei lá por quê. É que ela estava tão bonita, do jeito que passava rodando e rodando, de casaco azul e tudo. Só a gente estando lá para ver.”
(O Apanhador no Campo de Centeio, pág. 204)

Eu confesso: meus pés ainda estão cansados e minha cabeça ainda dói de tanto girar, mas ah! Só estando lá para ver.

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